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Considerações sobre o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida

Posted by Profº Valdir Pignatta há quase 6 anos

Prof. Dr. Valdir Pignatta e Silva - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

incêndio,compartimentação

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O edifício Wilton Paes de Almeida, construído na década de 1960, desabou por conta de um incêndio, em 2018. O efeito do incêndio foi agravado pela falta de compartimentação, pouca redundância das estruturas e dimensionamento das estruturas de concreto armado sem considerar o aquecimento proveniente do incêndio.


Compartimentação

A compartimentação de uma edificação é um dos principais meios de segurança contra incêndio. Uma vez iniciado o incêndio em um compartimento deve-se evitar que ele se propague para outros. A compartimentação vertical é aquela que impede a propagação vertical de gases ou calor de um pavimento para o imediatamente superior. É uma das medidas mais eficientes para a segurança contra incêndio. Além da relevância para a segurança à vida, a compartimentação vertical é hipótese fundamental da formulação normatizada para o dimensionamento das estruturas. Em outras palavras, a formulação normatizada para o dimensionamento de estruturas de concreto, aço etc. tem por princípio de que as estruturas estão dentro de compartimentos.

No que tange à garantia da compartimentação vertical de um pavimento, destacam-se: escadas enclausuradas; fachada com parapeito-verga ou marquise/aba, construídos por material incombustível, com determinadas dimensões mínimas, a fim de evitar que o fogo que se propaga para fora da edificação retorne ao pavimento superior; lajes com espessura mínima, de forma a respeitar isolamento térmico e estanqueidade, ou seja, evitar que o calor ou o fogo, respectivamente, se transfiram através da espessura da laje para o pavimento superior; selos corta-fogo (“firestops”) para vedar toda e qualquer ligação vertical entre pavimentos, tais como passagem de tubulações, dutos, shafts etc.

No edifício Wilton Paes de Almeida, segundo o que foi divulgado, diversas dessas medidas de segurança não existiam. Por se tratar de uma construção dos anos 1960, em que não havia exigências de segurança contra incêndio, não se pode responsabilizar os projetistas, mas confirma as exigências atuais sobre compartimentação vertical.


redundância

Outro aspecto a ser destacado, seria a concepção/leiaute das estruturas. À semelhança das torres 1 e 2 do World Trade Center, as estruturas tinham pouca redundância. Quando um pilar, por exemplo, falha em incêndio, há uma possibilidade de o carregamento suportado por esse pilar ser transferido a outros próximos. Isso deve fazer parte da concepção do projeto, permitindo que haja essa redistribuição de esforços. O edifício sinistrado tinha poucas alternativas para essa redistribuição.  A falha localizada em um pilar ou na caixa de elevadores pode ter conduzido ao colapso total da estrutura.


dimensionamento

Todos os materiais estruturais, tais como o concreto e o aço, que compunham as estruturas de concreto armado do edifício sinistrado, têm suas resistências reduzidas pela ação do fogo. Por isso, a norma brasileira ABNT NBR 15200:2012 é de uso obrigatório nos projetos de concreto. Essa norma permite encontrar as dimensões mínimas dos elementos estruturais de concreto e a posição das armaduras, a fim de respeitar o TRRF - tempo requerido de resistência ao fogo conforme as exigências dos Corpos de Bombeiros. Essa norma é relativamente recente e não havia essa preocupação nos anos 1960. Entende-se pois que não foram empregadas medidas de segurança para as estruturas. Hoje essa norma, bem como a ABNT NBR 14323:2013 para estruturas de aço, são de uso obrigatório.


considerações finais

Embora raro, o colapso total de um edifício em situação de incêndio pode acontecer. Mesmo que não ocorra um colapso total, uma ruína parcial ou a quebra da compartimentação vertical por defeito do projeto arquitetônico pode levar a perdas de vidas.


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